por Andréa Samico | @andreasamico
:: Acordei. A noite ia pelo meio. A boca cheia de uma sede seca. Bebi um copo d´água. Devagar. Procurei o sono no último gole, mas ele sumiu, se soltou de mim. Foi embora. Peguei um livro, fui até a sala, sentei-me em uma das esquinas do sofá. Milésimos de segundo e algo parecia estranho. “Havia névoa na sala?” Com a porta da varanda aberta, pensei se ela havia entrado por ali. O estranho é que não estranhei. Observei o entorno, ainda na penumbra. Tudo névoa. Encarei o livro em meu colo e voltei os olhos para o sofá. Foi quando me dei conta de que eu estava na esquina oposta à que havia sentado no instante anterior. Fiquei confusa. Não era ali que eu havia sentado originalmente. Ou era? Por um momento duvidei de minha certeza. Estiquei, então, o braço para acender a luz. Nada. Ela não acendia. Tentei de novo. Nada. Em silêncio questionei “Será que faltou luz?” Foi só aí que vi. Meus dedos atravessavam o interruptor. Sem qualquer contato. Arrepiei de aflição. Larguei o livro, que já não sabia se segurava. Levantei-me para voltar ao quarto. Senti urgência em acordar Marcelo para contar-lhe que havia algo estranho em tudo aquilo. Uma forte tontura tirou o meu prumo. Cheguei ao quarto já quase no chão. Arrastei-me para subir na cama até conseguir acordá-lo. Meu corpo jazia ao seu lado. Assustada pensei em gritar. Senti o toque de suas mãos a aquecer minha pele. Acordei. Não parecia, mas a realidade era que, de novo, sonhei com esse descolamento entre corpo e alma. De vez em quando, ela sai pra passear ou…sei lá… Penso, mas é difícil explicar. Já é de manhã. Preciso relembrar os compromissos do dia. Pego o celular, que deixei carregando na noite anterior e descubro: ele não carregou.
Andréa Samico | @andreasamico é publicitária com MBA em Marketing. À frente da Interseção descobriu nas histórias e nas expressões artísticas de todo tipo, a força dos universos criativo e da palavra. Apaixonada pela comunicação, pela escrita e pelo design, usa sua experiência para construir pontes e vive por atravessá-las.
ARTE: Andréa Samico | @andreasamico
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