por Beta Mellin | @betamellin
:: Ao longo de 13 anos venho estudando os efeitos do uso da tecnologia nas famílias. Percebo que a relação das crianças e até mesmo dos adultos com os eletrônicos muda com o passar da idade e com o momento de vida: pais se separando, um caso de depressão, a perda de alguém, mudança de escola, pandemia...
A indústria não colabora e se arma, cada vez mais, com produtos extremamente atraentes para que fiquemos grudados nas telas. Usamos os celulares, computadores e tablets como ferramenta de trabalho, de estudo, de encontro, de afetos, desafetos, informação, paquera, entretenimento... Está tudo ali, a dois cliques: Uma vida!
Estamos vivendo em tempos de hiperconexão, mas muitas vezes deixamos de nos conectar com quem está ali, do nosso lado, precisando de um afeto.
Olhamos para os lados e percebemos nos nossos pares um tipo de “esgotamento social”, todo mundo cansado, buscando um tempinho livre para relaxar, se divertir e muitas vezes dissociamos a diversão do tempo em família, dos filhos.
Mas amor e empatia também precisam ser praticados. A inteligência artificial já provou que, se bem programada, pode ter mais empatia do que os humanos, que estão perdendo essa capacidade.
Eu te convido a pensar no dia mais feliz da sua infância. Pergunte para seu filho também. Acho pouco provável que digam que tenha sido um dia de tela. Aposto que será uma viagem, um dia de brincadeiras, uma comida gostosa que alguém preparou, um bom bate papo.
Fico preocupada quando vejo que há um conformismo quanto ao uso de telas e que a corda da flexibilidade se estende ao ponto de deixarmos as crianças desatendidas. Somos pais e temos um compromisso de educar, de tentar fazer o melhor. Não somos perfeitos e erramos, claro.
Vão ter dias de mais uso de telas e outros de menos uso. Mas não podemos deixar de mostrar para eles como é bom ser humano. Que temos a capacidade de nos emocionar pelo e com o outro, que um cheiro ou uma palavra podem nos marcar pelo resto da vida. Que nada substitui um beijo e um abraço. Que rir juntos de doer a barriga é maravilhoso.
Não acho que a tecnologia seja vilã. Costumo comparar ao álcool. O problema não é a bebida, mas o uso do álcool em excesso por algumas pessoas.
Sei que tem pais trabalhando duro e mal tendo tempo para respirar. Mas é preciso planejamento, sem culpa. Nos fins de semana temos que fazer acordos de tela, VIVER o tempo juntos, explicar que amamos esses seres que criamos, planejar o uso das telas da semana toda e nos divertir COM eles. Experimente! É surpreendente.
Roberta Mellin | @betamellin é carioca e vive com o marido e as filhas Alix e Sofia. Palestrante e terapeuta familiar, compartilha em suas redes sociais reflexões sobre o uso de tecnologias em família. É formada em Jornalismo, Psicopedagogia e no ano em que este livro está sendo publicado, termina mais uma formação em Pedagogia. Atualmente dá aulas de educação digital em escolas no Rio de Janeiro. Beta, como é conhecida, segue o mantra “Nunca parar de estudar”.
AARTE: Andréa Samico | @andreasamico
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